segunda-feira, março 10, 2014

Diário de Bordo :: FILHOS DO VENTO :: Dias 7, 8 e 9

Concórdia

A sexta-feira foi de trânsito curto: 90 km entre Xanxerê e Concórdia. Chegamos e fomos direto pro Hotel Zanardi, onde fomos muito bem recebidos. Também nos acolheram muito bem no Restaurante do Mano, que tem uma comida deliciosa e foi nosso apoiador cultural por dois dias. Hospitalidade e carinho são muito importantes, especialmente quando se está na labuta fora de casa!

À tarde, quem nos recebeu com um abraço foi a Lariessa Soligo da Campo, presidente da Associação dos Grupos de Teatro de Concórdia e nossa produtora local.

A Praça Dogelo Goss estava em polvorosa, cheia de gente cantando e dançando em comemoração pelo Dia da Mulher. Parecia que estávamos no meio do Nordeste chegando pra nos apresentar naquelas feiras enormes que tem ali. O clima era muito agradável!

Montamos a tenda e toda a nossa estrutura perto da muvuca, e tão logo o pessoal se dissipou, nos mudamos para o centro da Praça, perto do chafariz.




Antes de começar tivemos dois contratempos envolvendo a Sandra, antes e depois de ela se transformar em Cigana Rosa. Primeiramente, a parte elétrica da caixa dela deu um piti e nada a fazia funcionar! Ela teve que percorrer uma distância enorme a procura de uma loja de eletrônica para solucionar o problema. Graças a um anjo da guarda, ela não precisou fazer isso a pé: um desconhecido achou que a distância seria muito grande e a levou e trouxe de carro. Ufa!

Depois de voltar e finalizar a montagem da caixa (já beirando a hora de começarmos), ela foi se arrumar num banheiro que virou camarim na Câmara dos Vereadores e já era hora de a Câmara fechar.... adivinha o que aconteceu? Sim, eles fecharam com ela lá dentro! Foi um forrobodó, mas logo ela saiu e tudo ficou bem.

Enquanto isso, na praça, aos poucos o público foi mudando: sumiu a multidão do evento popular, e foi chegando timidamente o nosso público.

Foi bonito de ver aquele monte de crianças assistindo atentamente ao teatro lambe-lambe. Ou correndo, pulando e brincando enquanto esperavam ansiosamente pela sua vez.
Todos os presentes ficaram encantados – e nós, muito felizes!








Pra mim, tudo tinha um gosto diferente, porque era a minha última apresentação na circulação. Depois de Concórdia, eu volto pra casa, pra base de produção, porque é preciso dar continuidade às produções futuras. 
O primeiro dia em Concórdia foi assim: alegre, sereno e com gosto de despedida.

Além da apresentação, a programação contava com uma Oficina de 12 horas, que aconteceu no sábado e domingo no Teatro Municipal.
O encontro, orientado por Jô Fornari e Laércio Amaral, foi muito produtivo! Havia poucas pessoas, mas sua dedicação e interesse fizeram quem que valessem por duas salas cheias. Inclusive uma das alunas, a Vânia, sonhava em fazer a oficina desde 2010. E, claro, aproveitou e curtiu muito!


 E a turma toda foi muito receptiva – e com isso, rendeu muito: em 12 horas, saíram com um protótipo de caixa e uma história quase pronta pra ir pra rua. Com um pouco mais de ensaios, teremos mais alguns caixeiros circulando por aí...






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Nota: a cidade de Concórdia está inserida no Vale do Contestado, região onde aconteceu, entre 1912 e 1916, a Guerra do Contestado, conflito entre os caboclos locais e aqueles que destituíram suas terras, o Governo Estadual e Federal. No âmago daquelas terras estão muitas manchas de sangue de todos aqueles que morreram injustamente, que morreram lutando pra defender suas famílias e o direito à terra pra plantar e pra viver.
Uma história triste, forte e que permeia o imaginário daquele povo.
Durante a oficina, tivemos uma aula dobre o assunto. Aprendemos muito com aqueles jovens atores que não querem ignorar esse passado doloroso. Eles devem saber que não adianta tentar fugir, e que debatendo o assunto eles tem a chance de avaliar para construir um caminhar diferente...
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“Tomara, tomara aqui,
Tomara, tomara cá....
Tomara que um dia eu volte
Pra este mesmo lugar!
Um pouco de mim deixo aqui,
Um pouco daqui vou levar.
Tomara que um dia eu volte pra este mesmo lugar!” *




Obrigada, Concórdia!
Gracias, muchas gracias, Filhos do Vento!

Eles agora seguem ventando por Santa Catarina e depois Paraná. Eu volto pra casa, depois de percorrer 4 cidades e 847 km. Foram sete dias valiosos de andanças, partilha e arte. Conhecemos paisagens, pessoas, praças... foi muito bom ventar com vocês!


ReNata Batista
Produtora da Cia Andante


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* Livre adaptação da música TOMARACÁ, de Tarancón

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