CERRO LARGO...
Chegando em Cerro Largo nos
deparamos com uma pequena cidade, bonita e com uma praça central grande e
arborizada. Normalmente somos atraídos à praça central onde iremos apresentar,
por expectativa e curiosidade...
Em seguida nos dirigimos ao pequeno
hotel. Antigo, bem organizado. Preserva um charme especial e um bom
atendimento. Nosso contato na cidade , Janice, chega quase junto conosco ao hotel, uma
boa coincidência (ficamos sempre atentos a essas pequenas sincronias como leves
indícios de boa sorte).
Janice à direita |
Após o descarregar das malas,
almoçamos, nos esticamos para uma curta “siesta” e em seguida vamos à praça
escolher o local que nos pareça o mais adequado para a montagem. Parados à
frente da prefeitura recebemos as boas vindas do seo Milton, que trabalha na
segurança do paço municipal. Os bons sinais vão se somando.
Montamos nosso pequeno circo. O
público chega, vai chegando devagarinho. E trazendo suas cadeiras dobráveis e o
inseparável chimarrão. Vamos organizando as coisas e batendo um papo com a
plateia que vai se somando. Idosos, jovens, adultos, crianças. Crianças
trazendo seus cãezinhos em carrinhos de boneca. A praça é, normalmente,
festiva.
Vem o Adriano, com sua
dificuldade de fala e locomoção empurrando seu carrinho de supermercado
adaptado para catar latinhas. Está curiosíssimo com o que vê e ficamos trocando
algumas ideias, eu a entender o seu dialeto, ele a entender o meu.
E o público vem chegando. Mais
cadeiras e mais cuias.
A pequena Cerro Largo nos
surpreende com sua movimentação de domingo à tarde na praça e arredores. O dia
ajuda e muito, o sol está a brilhar.
Começamos a função fazendo nossa
tradicional abertura, bradando “os ciganos chegaram à (Cerro Largo)...”.
Distribuímos as senhas, as crianças sempre se adiantando. Alguns adultos, curiosíssimos,
sucumbem ao medo do mistério: ficam à espreita. Após a primeira rodada de
apresentações, com tantos comentários, caras-bocas-sorrisos, os reticentes se
encorajam e buscam agora entender que magia encantou os primeiros que se
arriscaram.
Chamo Adriano, mesmo sem senha.
Ele não quer se afastar do apoio de seu carrinho. Insisto, trago-o pela mão,
ajudo-o a sentar-se no banquinho. Para ele é difícil, o corpo retorcido pouco
ajuda, mas sei que a firmeza de minha mão o ampara e sei que ele sente e sabe.
Durante a apresentação observo suas feições, tenho o privilégio de ver seus
olhos. Ao terminar, ele me pede para ajudá-lo a levantar-se; vamos até seu
carrinho. Ele me agradece ternamente, sempre sorrindo, e nos despedimos. Ele se
volta mais uma vez e sorri...
Meu coração se alargou nestes
cerros.
Findando as apresentações nos
inserimos numa das rodas de chimarrão para curtir um mate e bater um papo com
as pessoas que permanecem na praça. Uma delícia de tarde.
Outro anjo que se apresenta para
nós é o Juca. Agitador cultural, um “rapaz eclético”, segundo ele mesmo. Nos
auxilia na praça, fotografa e apanha depoimentos. É também nosso cicerone, nos
acompanha ao café da tarde após a função e depois também ao jantar. E nos
apresenta ao boteco das cervejas artesanais, para a comemoração de mais uma
etapa cumprida.
Valeu Juca! Até o próximo
encontro no estradar das artes... Ótimas lembranças de Cerro Largo.
Ao amanhecer, pé na estrada rumo
a São Borja, nossa próxima etapa.
Por Laércio Amaral
Nenhum comentário:
Postar um comentário